domingo, 20 de maio de 2012



Eis que nos olhos infantes brilhou uma dúvida aterrorizante. Procurou então seu amor mais ingênuo e diante dele perguntou-lhe aquilo que dentro de si borbulhava incompreensivelmente: “amor meu, responde pra mim: é possível amar de qualquer jeito, de qualquer maneira, sob qualquer forma?” E, então, seu amor puro respondeu: “sim, meus olhos. É possível.”. Esses olhos amedrontados não compreenderam tal resposta. Os pequenos olhos carregavam consigo o peso da ditadura do amar imposta pelo estranho, pois um dia disseram a eles que amar era determinado por lei, por uma norma gélida de sentir.  Ao perceber a cor dos olhos se perder e o medo surgir, o amor com carinho lhe disse: “Fique tranquila meus olhos, pois só agora estas aprendendo a ver.” 

segunda-feira, 16 de abril de 2012

Ultimamente tenho andado com uma alma “drummondiana”. Sem nem perceber já sinto o corpo pesar e os ombros enrijecer. Então, pulula em mim uma vontade imensa de silêncio e de solidão. E nesse momento o sono furta meu tempo, obrigando meu corpo a se calar. É um instante de plena inconstância em que meu desejo permeia entre o enorme prazer ver o sono desmanchar meu corpo e da necessidade de permitir chover para ver se minh’alma lavada reflorescer.

sábado, 7 de abril de 2012

Tem dias que o peito aperta e a alma partida ao meio não sabe o caminho a tomar. O corpo pede uma pausa, pede ao tempo, tempo. Assim quem sabe a alma pode ser recosturada, refeita, resignificada. Ela é tão incompreensível em sua loucura, quanto em sua delicadeza. Há em sua companhia um coração insensato rindo da pobre alma. E, como sempre, há também uma rosa declamando a alma e ao coração palavras de acalanto para, quem sabe, permitir a eles leveza.

terça-feira, 27 de março de 2012

Pulsa, pulsa, pulsa. Uma alma desmesurada constrói um ser de desequilíbrios. Pulsa, pulsa, pulsa. A morada está partida ao meio. Pulsa, pulsa, pulsa. Sobre ele pousa uma doce e macia luz, abraçando seus sonhos inquietos e fugazes. Pulsa, Pulsa. Ela parece querer habitar sobre ele brotos de sussurros. Pulsa, Pulsa. O sopro quente acalanta a alma. Pulsa. O ninho está construído. O instante torna-se infindo. Ele, anuviado pela luz, se permite colher flores rubras. E primaverando n’alma palpita cantigas de ninar.

domingo, 25 de março de 2012

Tem dias que o corpo pesa tanto que o coração perde o ritmo e a alma transborda em chuva. E nesse dias as palavras são frouxas e os pensamentos incertos. A única coisa que resta é o tempo a repetir: vai passar, vai passar...

quinta-feira, 22 de março de 2012

Creio que herdei da educação de meus pais – ou talvez de outro lugar que não descobri qual é - duas características fundamentais na minha personalidade: a solidariedade e o romantismo. Elas nem sempre se mostram juntas e com freqüência me presenteiam com o prazer. Aqueles que não sabem ser solidários não compreendem esse sentimento de contentamento que surge ao poder ajudar o outro. É qualquer coisa de doação ingênua e materna. Nem sempre isso traz a mim a leveza desejada. Verdade seja dita: ser solidário pesa. É contraditório, mas é um sentimento verdadeiro também. E mesmo com isso o amor brotado dessa doação floresce como árvores em plena primavera. Quanto ao romantismo esse está em mim intrinsecamente. Não é aquele romantismo açucarado, mas sim agridoce. Significa que nem sempre trarei flores com declarações amorosas, porém diariamente beijarei olhos, desejarei o céu mais belo e farei o café amargo (que detesto) com o mesmo prazer de estar comendo um chocolate só por saber que ao acordar verei no seu rosto um sorriso amoroso.

terça-feira, 13 de março de 2012

Nosso primeiro encontro foi lindo, de súbito. Como um desses eventos sublimes que a vida nos acomete. Ele estava de repouso como quem não quer nada. À primeira vista nada tinha a me oferecer. Dizia pertencer a outra, mas meu olhar – e coração - ao encontrá-lo teve certeza: serás eternamente meu. Foi um caso de amor avassalador. Cada palavra saltada aos olhos representava uma poesia. Era como se cada uma delas estivesse pouco a pouco me devassando sutilmente e revelando em mim o não imaginado, o não vivido. Ele tinha nome estranho, mas seus silêncios me envolviam. Alguns anos se passaram desde esse nosso último encontro. Quase havia me esquecido de seus galanteios (filosóficos?), mas novamente nossos caminhos se cruzaram. Ele agora anda sempre ao meu lado e todo dia releio alguma de suas palavras. Hoje ele me disse: “ mas como é possível observar alguma coisa deixando à parte o eu? De quem são os olhos que olham?” (Palomar, Calvino)